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da imagem: http://www.livrosabertos.com.br/tag/esperando-godot/
SAMUEL
BECKETT
[1906
– 1989]
Esperando
Godot
(Waiting
for Godot; En attendant Godot) [1949; 1952]
[trecho]
ESTRAGON
Enquanto
esperamos, vamos tratar de conversar com calma, já que calados não
conseguimos ficar.
VLADIMIR
É verdade, somos inesgotáveis.
É verdade, somos inesgotáveis.
ESTRAGON
Para não pensar.
Para não pensar.
VLADIMIR
Temos nossas desculpas.
Temos nossas desculpas.
ESTRAGON
Para não ouvir.
Para não ouvir.
VLADIMIR
Temos nossas razões.
Temos nossas razões.
ESTRAGON
Todas as vozes mortas.
Todas as vozes mortas.
VLADIMIR
Um rumor de asas.
Um rumor de asas.
ESTRAGON
De folhas.
De folhas.
VLADIMIR
De areia.
De areia.
ESTRAGON
De folhas.
De folhas.
Silêncio.
VLADIMIR
Falam todas ao mesmo tempo.
Falam todas ao mesmo tempo.
ESTRAGON
Cada uma consigo própria.
Cada uma consigo própria.
Silêncio.
VLADIMIR
Melhor, cochicham.
Melhor, cochicham.
ESTRAGON
Murmuram.
Murmuram.
VLADIMIR
Sussurram.
Sussurram.
ESTRAGON
Murmuram.
Murmuram.
Silêncio.
VLADIMIR
E falam do quê?
E falam do quê?
ESTRAGON
Da vida que viveram.
Da vida que viveram.
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Obra-prima
do dramaturgo, romancista e poeta irlandês Samuel Beckett
(1906-1989), ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1969. Samuel
Beckett, o criador da farsa metafísica Morto há dez anos, o autor
irlandês iniciou sua obra teatral com a peça “Esperando
Godot”, na qual os clochards Vladimir e Estragon
representam o homem eternamente à espera. Incontestável é o
prestígio de Beckett, por toda parte, conforme atestam constantes
encenações e publicações a ele dedicadas e que proliferam
sobretudo por ocasião de seus aniversários - são os 70 anos, os 80
anos, os 90 anos do seu nascimento ou, como agora, os dez anos de sua
morte, ocorrida a 22 de dezembro de 1989.
Muito
já foi dito e redito sobre seu teatro, iniciado com a nunca
suficientemente elogiada peça Esperando Godot (composta entre
outubro de 1948 e janeiro de 1949), aquela farsa trágica ou tragédia
farsesca do homem, o herói que expia o pecado de haver nascido ou,
como diz textualmente o Beckett ensaísta, em Proust (1930): "A
figura trágica representa a expiação do pecado original", e
ainda "o maior delito do homem é o de haver nascido".