segunda-feira, 29 de julho de 2013

Ode a um Rouxinol - John Keats







John Keats


Ode a um Rouxinol

Ode to a Nightingale


Meu coração dói, e um torpor aflige
Meus sentidos, como se ébrio de cicuta,
Ou sorvido algum vapor de ópio
Um minuto passou, e no Letes afunda: (1)
Não é inveja de teu fado feliz,
Mas feliz em tua felicidade -
Tu, lúcida-alada Dríade no bosque, (2)
Em tal melodiosa trama
De faia verde, e de sombras inúmeras,
Cantaste o Verão à plena garganta.


Ó fruto da vinha! Que repousas
Tanto tempo na profunda terra,
Degustar de flora e verdes campinas
Dança, canção provençal, e diversão,
Ó taça cheia do caloroso Sul,
Cheia de real e rubra Hippocrene, (3)
Com espuma cintilante até a borda
E a manchar a boca de púrpura,
Que beberei, e deixar o mundo não-visto,
E contigo sumir na floresta sombria:


Afaste, dissolva, e esqueças tudo
O que entre as folhas jamais conheceste,
O tédio, a febre, a irritação
Aqui, onde os homens em gemidos mútuos
Onde o torpor abala tristes cãs,
Onde os jovens pálidos, débeis, morrem,
Onde pensar é ser cheio de mágoas
E desespero no olhar;
Onde a Beleza perde o olhar lustroso,
Ou o Amor gasta-se no dia seguinte.


Para longe! Eu desejo voar contigo,
Não guiado por Baco, e seus convivas, (4)
Mas nas invisíveis asas da Poesia,
Mesmo que a mente se atrase confusa:
Estarei contigo! Suave é a noite!
E por sorte a Rainha-Lua no trono,
Cortejada por suas brilhantes Fadas;
Mas aqui lua não há
Salvo a brisa que desce do céu
Em penumbras e trilhas sinuosas.


Não posso ver flores aos meus pés,
Nem o incenso a flutuar sobre os ramos,
Mas, nas trevas suaves, aprecio cada um
Onde a bela estação oferece
A grama espessa, e a árvore silvestre;
O espinheiro-branco, e a flor pastoral;
Violetas a murcharem sob as folhas,
E o broto de plena Primavera,
O almíscar-rosa, de vinho orvalhado,
O zumbir de moscas em tardes de Verão.


Sombrio eu ouço; e por muito tempo
Meio atraído pela suave morte,
A chamei com nomes doces nas rimas,
Para arrebatar meu fôlego calmo;
Pois parece proveitoso morrer,
À noite, cessar tudo sem dor alguma,
Enquanto derramas toda a tua alma
Em semelhante êxtase!
Cantarias ainda, em vão, meus ouvidos
Ao teu nobre requiém viraram relva.


Não nasceste para morrer, ave eterna!
Gerações ávidas não te derrubam;
Ouço nesta noite a voz já ouvida
Outrora por imperador e curinga;
Talvez a mesma melodia na trilha
Ao triste coração de Rute, saudosa, (5)
Ansiava o lar, em pranto, no exílio;
O mesmo a encantar outrora
Mágicas janelas, abertas à espuma
De mares bravios, em terras lendárias.


Desolado! as palavras ressoam
A levar-me de ti à minha solidão!
Adeus! A fantasia não ilude
Como dizem, ela, a falsa ninfa.
Adeus! Adeus! Teu queixoso hino finda
Além das campinas, além dos riachos,
Além das colinas, já sepulto
Nas clareiras do vale próximo;
Foi uma visão, ou um devaneio?
Foi-se a melodia: - acordei ou durmo?



ago/10


Trad. livre: Leonardo de Magalhaens




(1)Lethe/Letes é o rio do esquecimento, que atravessa o Hades, na
Mitologia grega.
(2)Dríade é um entidade da mitiologia grega, uma espécie de ninfa que
habitava a essência das árvores do bosques intocados.
(3)Na mitologia grega, Hipocrene é uma fonte mística no Monte Helicon,
consagrada às Musas. A fonte nasceu de um coice do cavalo-alado
Pegasus.
(4)Baco é o nome do deus do vinho e do êxtase na mitologia romana,
o Dionísio da mitologia grega.
(5)Rute é uma moabita, mas heroína da tradição judaica, ao se
tornar ancestral do Rei Davi. Simboliza aquela que vive em terra
estrangeira, e faz novos 'laços de amizade' com a nova pátria.


sobre tradução de poemas de Keats

poema original em

para ouvir




Ode to a Nightingale
John Keats

My heart aches, and a drowsy numbness pains
    My sense, as though of hemlock I had drunk,
Or emptied some dull opiate to the drains
    One minute past, and Lethe-wards had sunk:
'Tis not through envy of thy happy lot,
    But being too happy in thine happiness, -
        That thou, light-winged Dryad of the trees,
                In some melodious plot
    Of beechen green and shadows numberless,
        Singest of summer in full-throated ease.
O, for a draught of vintage! that hath been
    Cool'd a long age in the deep-delved earth,
Tasting of Flora and the country green,
    Dance, and Provençal song, and sunburnt mirth!
O for a beaker full of the warm South,
    Full of the true, the blushful Hippocrene,
        With beaded bubbles winking at the brim,
                And purple-stained mouth;
    That I might drink, and leave the world unseen,
        And with thee fade away into the forest dim:
Fade far away, dissolve, and quite forget
    What thou among the leaves hast never known,
The weariness, the fever, and the fret
    Here, where men sit and hear each other groan;
Where palsy shakes a few, sad, last gray hairs,
    Where youth grows pale, and spectre-thin, and dies;
        Where but to think is to be full of sorrow
                And leaden-eyed despairs,
    Where Beauty cannot keep her lustrous eyes,
        Or new Love pine at them beyond to-morrow.
Away! away! for I will fly to thee,
    Not charioted by Bacchus and his pards,
But on the viewless wings of Poesy,
    Though the dull brain perplexes and retards:
Already with thee! tender is the night,
    And haply the Queen-Moon is on her throne,
        Cluster'd around by all her starry Fays;
                But here there is no light,
    Save what from heaven is with the breezes blown
        Through verdurous glooms and winding mossy ways.
I cannot see what flowers are at my feet,
    Nor what soft incense hangs upon the boughs,
But, in embalmed darkness, guess each sweet
    Wherewith the seasonable month endows
The grass, the thicket, and the fruit-tree wild;
    White hawthorn, and the pastoral eglantine;
        Fast fading violets cover'd up in leaves;
                And mid-May's eldest child,
    The coming musk-rose, full of dewy wine,
        The murmurous haunt of flies on summer eves.
Darkling I listen; and, for many a time
    I have been half in love with easeful Death,
Call'd him soft names in many a mused rhyme,
    To take into the air my quiet breath;
Now more than ever seems it rich to die,
    To cease upon the midnight with no pain,
        While thou art pouring forth thy soul abroad
                In such an ecstasy!
    Still wouldst thou sing, and I have ears in vain -
        To thy high requiem become a sod.
Thou wast not born for death, immortal Bird!
    No hungry generations tread thee down;
The voice I hear this passing night was heard
    In ancient days by emperor and clown:
Perhaps the self-same song that found a path
    Through the sad heart of Ruth, when, sick for home,
        She stood in tears amid the alien corn;
                The same that oft-times hath
    Charm'd magic casements, opening on the foam
        Of perilous seas, in faery lands forlorn.
Forlorn! the very word is like a bell
    To toll me back from thee to my sole self!
Adieu! the fancy cannot cheat so well
    As she is fam'd to do, deceiving elf.
Adieu! adieu! thy plaintive anthem fades
    Past the near meadows, over the still stream,
        Up the hill-side; and now 'tis buried deep
                In the next valley-glades:
    Was it a vision, or a waking dream?
        Fled is that music: - Do I wake or sleep?
 


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