terça-feira, 20 de agosto de 2013

À Ponte do Brooklyn - Hart Crane





Hart Crane


To Brooklyn Bridge

À Ponte do Brooklyn


Quantas auroras, frias de seu ondulante descanso
As asas da gaivota deverão mergulhar e girar,
Vertendo alvos anéis de tumulto, erigindo alto
Sobre as águas cativas da baía a Liberdade –

Então, com inviolada curva, deixam nossos olhos
Tão espectrais quanto os veleiros que cruzam
Alguma página de figuras a ser preenchida,
-Até que elevadores soltem-nos de nosso dia...

Imagino cinemas, truques panorâmicos
Com multidões atentas a uma brilhante cena
Nunca revelada, mas novamente acelerada
Prevista a outros olhos na mesma tela;

E Tu, através do porto, prateada
Como se o sol se afastasse de ti, ainda deixasse
Algum mover nunca gasto em teu transpor, -
Implícita tua liberdade fica contigo!

De uma abertura de metrô, cela ou sótão
Um maluco corre até os teus parapeitos,
Inclinando lá num momento, camisa inflada,
Uma tirada cai da caravana sem-fala.

Wall abaixo, de viga rua adentro meio-dia,
Um dente arrancado do acetileno do céu;
Toda tarde as nubladas gruas giram...
Teus cabos respiram a calma do atlântico norte.

E obscuro tal o Paraíso dos judeus,
Teu galardão... Recompensa tu concedes
De anonimato tempo não se ergue:
Vibrante alívio e perdão tu demonstras.

Ó harpa e altar, da fúria fundido,
(Como poderia um mera ferramenta
alinhar as tuas cordas cantantes?)
Terrível limiar da promessa do profeta,
Prece do paria, e pranto do amante, -

Novamente os semáforos que roçam teu veloz
E completo idioma, puro suspiro astral,
Ornando tua trilha – condensam eternidade:
E temos visto a noite erguida em teus braços.

Sob a tua sombra no cais eu esperava;
Apenas no escuro é nítida tua sombra.
Da cidade as partes luminosas dispersas,
Já a neve submerge um tempo férreo...

Ó insone igual ao rio abaixo de ti,
Arqueando o mar, a relva da planície,
Até nós, inferiores, às vezes arrasta, desce
E da curvatura a Deus empresta um mito.



Trad. livre: Leonardo de Magalhaens




Hart Crane


To Brooklyn Bridge


How many dawns, chill from his rippling rest
The seagull's wings shall dip and pivot him,
Shedding white rings of tumult, building high
Over the chained bay waters Liberty--

Then, with inviolate curve, forsake our eyes
As apparitional as sails that cross
Some page of figures to be filed away;
--Till elevators drop us from our day . . .

I think of cinemas, panoramic sleights
With multitudes bent toward some flashing scene
Never disclosed, but hastened to again,
Foretold to other eyes on the same screen;

And Thee, across the harbor, silver-paced
As though the sun took step of thee, yet left
Some motion ever unspent in thy stride,--
Implicitly thy freedom staying thee!

Out of some subway scuttle, cell or loft
A bedlamite speeds to thy parapets,
Tilting there momently, shrill shirt ballooning,
A jest falls from the speechless caravan.

Down Wall, from girder into street noon leaks,
A rip-tooth of the sky's acetylene;
All afternoon the cloud-flown derricks turn . . .
Thy cables breathe the North Atlantic still.

And obscure as that heaven of the Jews,
Thy guerdon . . . Accolade thou dost bestow
Of anonymity time cannot raise:
Vibrant reprieve and pardon thou dost show.

O harp and altar, of the fury fused,
(How could mere toil align thy choiring strings!)
Terrific threshold of the prophet's pledge,
Prayer of pariah, and the lover's cry,--

Again the traffic lights that skim thy swift
Unfractioned idiom, immaculate sigh of stars,
Beading thy path--condense eternity:
And we have seen night lifted in thine arms.

Under thy shadow by the piers I waited;
Only in darkness is thy shadow clear.
The City's fiery parcels all undone,
Already snow submerges an iron year . . .

O Sleepless as the river under thee,
Vaulting the sea, the prairies' dreaming sod,
Unto us lowliest sometime sweep, descend
And of the curveship lend a myth to God.
 








Hart Crane [1899-1932]



mais poemas em



Nenhum comentário:

Postar um comentário