segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Contos / Alegorias de Franz Kafka





FRANZ KAFKA


Die Steuermann

O timoneiro

Não sou o timoneiro?””, eu exclamei. “Você?”, perguntou um homem grandalhão alto e sombrio e apertou as mãos nos olhos como se ele espantasse um sonho. Eu estava ao leme durante a noite escura, com a lanterna brilhando debilmente sobre a minha cabeça, e agora havia este homem recém-chegado e que queria dispensar-me, empurrar-me. E de lá eu não me arredei, ele posicionou o pé contra o meu peito e lentamente empurrou-me para baixo, enquanto eu ainda sempre à roda do leme me agarrava e ao cair o desviava, alterava o curso, totalmente. Porém, lá, o homem o corrigiu, no rumo em ordem, enquanto a mim expulsava-me. Porém, eu logo me dirigi até a escotilha que ligava até a sala da tripulação e exclamei: “Tripulação! Camaradas! Venham rápido! Um estranho expulsou-me do leme!” Lentamente eles vieram, ao subirem a escada do navio, formas vigorosas mas fatigadas vacilantes. “Sou eu o timoneiro?” eu perguntei. Eles afirmaram com as cabeças, mas sempre a olharem para o estranho, e se puseram em semicírculo ao redor dele e, quando ele ordenando disse: “Não me incomodem”, eles se reuniram, com a cabeça acenaram para mim e desceram as escada do navio lá pra baixo. Que povo é este! Eles pensam mesmo ou se arrastam sem qualquer sentido sobre a face da Terra?


Trad. livre: LdeM


»Bin ich nicht Steuermann?« rief ich. »du?« fragte ein dunkler hoch gewachsener Mann und strich sich mit der Hand über die Augen, als verscheuche er einen Traum. Ich war am Steuer gestanden in der dunklen Nacht, die schwachbrennende Laterne über meinem Kopf, und nun war dieser Mann gekommen und wollte mich beiseiteschieben. Und da ich nicht wich, setzte er mir den Fuß auf die Brust und trat mich langsam nieder, während ich noch immer an den Stäben des Steuerrades hing und beim Niederfallen es ganz herumriss. Da aber fasste es der Mann, brachte es in Ordnung, mich aber stieß er weg. Doch ich besann mich bald, lief zu der Luke, die in den Mannschaftsraum führte und rief: »Mannschaft! Kameraden! Kommt schnell! Ein Fremder hat mich vom Steuer vertrieben!« Langsam kamen sie, stiegen auf aus der Schiffstreppe, schwankende müde mächtige Gestalten. »Bin ich der Steuermann?« fragte ich. Sie nickten, aber Blicke hatten sie nur für den Fremden, im Halbkreis standen sie um ihn herum und, als er befehlend sagte: »Stört mich nicht«, sammelten sie sich, nickten mir zu und zogen wieder die Schiffstreppe hinab. Was ist das für Volk! Denken sie auch oder schlurfen sie nur sinnlos über die Erde?

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A PONTE

Die Brücke



Eu era rígido e frio, eu era uma ponte estendido sobre um precipício. Aquém estavam as pontas dos pés, além, as mãos, encravadas; no desmoronante lodo agarrei-me com os dentes, As pontas do meu casaco balançavam aos lados do meu corpo. Embaixo, lá no fundo, o rumor de um gelado riacho cheio de trutas. Nenhum turista se perdera até aquelas alturas inacessíveis, sequer a ponte estava ainda em algum mapa. - Assim estava eu e esperava; devia esperar. Sem que desabe no vazio, uma ponte uma vez construída não pode deixar de ser ponte.

Foi certa vez, quase ao poente, se foi o primeiro, ou se foi o milésimo, não sei, - pois meu pensar ia sempre em confusão, sempre em círculos. Ao poente, no verão, sombriamente murmurava o riacho, quando ouvi os passos de uma pessoa! Veio direto para mim, para mim. - Fique firme, ponte, em posição, viga sem corrimão, a sustentar o caminhante a ti confiado. Se há incerteza nos passos, se cambaleia, faça-os firmes, mas sem que ele perceba, e tal um deus-da-montanha, conduza-a até à terra firme.

Ele veio, a golpear-me com a ponta da bengala, assim a erguer as pontas de meu casaco, arrumadas sobre mim. Com a ponta andou entre meus cabelos em cachos e ficou longo tempo por perto, a olhar ao redor com possíveis olhares insanos e selvagens. Mas então, - quando eu sonhava com montanhas e vales, - ele saltou com ambos os pés sobre a metade do meu corpo. Num estremecer, em meio a dor selvagem, quase inconsciente. Quem era a pessoa? Uma criança? Um sonho? Um vagabundo? Um suicida? Um tentador? Um destruidor? E voltei-me para vê-lo. A ponte dar uma volta! Não me voltara ainda, e caí logo, desabei, e logo estava em pedaços caído nos rochedos pontiagudos que antes haviam me olhado pacificamente lá debaixo nas águas velozes.


Trad. Livre: LdeM


Die Brücke

Ich war steif und kalt, ich war eine Brücke, über einem Abgrund lag ich. Diesseits waren die Fußspitzen, jenseits die Hände eingebohrt, in bröckelndem Lehm habe ich mich festgebissen. Die Schöße meines Rockes wehten zu meinen Seiten. In der Tiefe lärmte der eisige Forellenbach. Kein Tourist verirrte sich zu dieser unwegsamen Höhe, die Brücke war in den Karten noch nicht eingezeichnet. - So lag ich und wartete; ich mußte warten. Ohne einzustürzen kann keine einmal errichtete Brücke aufhören, Brücke zu sein.

Einmal gegen Abend war es - war es der erste, war es der tausendste, ich weiß nicht, - meine Gedanken gingen immer in einem Wirrwarr und immer in der Runde. Gegen Abend im Sommer, dunkler rauschte der Bach, da hörte ich einen Mannesschritt! Zu mir, zu mir. - Strecke dich, Brücke, setze dich in Stand, geländerloser Balken, halte den dir Anvertrauten. Die Unsicherheit seines Schrittes gleiche unmerklich aus, schwankt er aber, dann gib dich zu erkennen und wie ein Berggott schleudere ihn ins Land.


Er kam, mit der Eisenspitze seines Stockes beklopfte er mich, dann hob er mit ihr meine Rockschöße und ordnete sie auf mir. In mein buschiges Haar fuhr er mit der Spitze und ließ sie, wahrscheinlich wild umherblickend, lange drin liegen. Dann aber - gerade träumte ich ihm nach über Berg und Tal - sprang er mit beiden Füßen mir mitten auf den Leib. Ich erschauerte in wildem Schmerz, gänzlich unwissend. Wer war es? Ein Kind? Ein Traum? Ein Wegelagerer? Ein Selbstmörder? Ein Versucher? Ein Vernichter? Und ich drehte mich um, ihn zu sehen. - Brücke dreht sich um! Ich war noch nicht umgedreht, da stürzte ich schon, ich stürzte, und schon war ich zerrissen und aufgespießt von den zugespitzten Kieseln, die mich immer so friedlich aus dem rasenden Wasser angestarrt hatten.





À NOITE

Nachts

Mergulhado na noite. Assim como se se abaixasse às vezes a cabeça para meditar, assim totalmente mergulhado na noite. Ao redor as pessoas dormem. Uma pequena cena de teatro, um ingênuo auto-engano de que dormem em casas, em camas firmes, sob o teto sólido, estendidos ou encolhidos sobre colchões, em lençóis, sob cobertas, realmente reunidos como antes e mais tarde, em terreno ermo, um acampamento aberto, um número incalculável de pessoas, um exército, um povo, sob o céu frio, na terra fria, estendidos onde antes andavam de pé, a testa prensada contra o braço, o rosto contra o chão, respirando calmamente. E tu vigias, és um dos vigias, descobriste o mais próximo pelo mover-se da lenha em brasa no monte de galhos junto a ti. Por que vigias? Alguém precisa vigiar, dizem. Alguém precisa permanecer aí.


Trad. livre: LdeM


Nachts

Versunken in die Nacht. So wie man manchmal den Kopf senkt, um nachzudenken, so ganz versunken sein in die Nacht. Ringsum schlafen die Menschen. Eine kleine Schauspielerei, eine unschuldige Selbsttäuschung, daß sie in Häusern schlafen, in festen Betten, unter festem Dach, ausgestreckt oder geduckt auf Matratzen, in Tüchern, unter Decken, in Wirklichkeit haben sie sich zusammengefunden wie damals einmal und wie später in wüster Gegend, ein Lager im Freien, eine unübersehbare Zahl Menschen, ein Heer, ein Volk, unter kaltem Himmel auf kalter Erde, hingeworfen wo man früher stand, die Stirn auf den Arm gedrückt, das Gesicht gegen den Boden hin, ruhig atmend. Und du wachst, bist einer der Wächter, findest den nächsten durch Schwenken des brennenden Holzes aus dem Reisighaufen neben dir. Warum wachst du? Einer muß wachen, heißt es. Einer muß da sein.




'Diante da Lei' [em O Processo]



Diante da lei está um porteiro. Um homem do campo chega a esse porteiro e pede para entrar na lei. Mas o porteiro diz que agora não pode permitir-lhe a entrada. O homem do campo reflete e depois pergunta se então não pode entrar mais tarde. 
-É possível - diz o porteiro - mas agora não.

Uma vez que a porta da lei continua como sempre aberta e o porteiro se põe de lado o homem se inclina para olhar o interior através da porta. Quando nota isso o porteiro ri e diz: 
-Se o atrai tanto, tente entrar apesar da minha proibição. Mas veja bem: eu sou poderoso.
E sou apenas o último dos porteiros. De sala para sala porém existem porteiros cada um mais poderoso que o outro. Nem mesmo eu posso suportar a simples visão do terceiro. 
O homem do campo não esperava tais dificuldades: a lei deve ser acessível a todos e a qualquer hora, pensa ele; agora, no entanto, ao examinar mais de perto o porteiro, com o seu casaco de pele, o grande nariz pontudo, a longa barba tártara, rala e preta, ele decide que é melhor aguardar até receber a permissão de entrada. O porteiro lhe dá um banquinho e deixa-o sentar-se ao lado da porta.

Ali fica sentado dias e anos. Ele faz muitas tentativas para ser admitido e cansa o porteiro com os seus pedidos. Às vezes o porteiro submete o homem a pequenos interrogatórios, pergunta-lhe a respeito da sua terra natal e de muitas outras coisas, mas são perguntas indiferentes, como as que os grandes senhores fazem, e para concluir repete-lhe sempre que ainda não pode deixá-lo entrar. O homem, que havia se equipado com muitas coisas para a viagem, emprega tudo, por mais valioso que seja, para subornar o porteiro. Com efeito, este aceita tudo, mas sempre dizendo: 
-Eu só aceito para você não julgar que deixou de fazer alguma coisa. 

Durante todos esses anos o homem observa o porteiro quase sem interrupção. Esquece os outros porteiros e este primeiro parece-lhe o único obstáculo para a entrada na lei. Nos primeiros anos amaldiçoa em voz alta e desconsiderada o acaso infeliz; mais tarde, quando envelhece, apenas resmunga consigo mesmo. Torna-se infantil e uma vez que, por estudar o porteiro anos a fio, ficou conhecendo até as pulgas da sua gola de pele, pede a estas que o ajudem a fazê-lo mudar de opinião.
Finalmente sua vista enfraquece e ele não sabe se de fato está ficando mais escuro em torno ou se apenas os olhos o enganam. Não obstante reconhece agora no escuro um brilho que irrompe inextinguível da porta da lei. Mas já não tem mais muito tempo de vida. Antes de morrer, todas as experiências daquele tempo convergem na sua cabeça para uma pergunta que até então não havia feito ao porteiro. Faz-lhe um aceno para que se aproxime, pois não pode mais endireitar o corpo enrijecido. O porteiro precisa curvar-se profundamente até ele, já que a diferença de altura mudou muito em detrimento do homem: 
-O que é que você ainda quer saber? pergunta o porteiro. Você é insaciável.
-Todos aspiram à lei - diz o homem. Como se explica que em tantos anos ninguém além de mim pediu para entrar? 

O porteiro percebe que o homem já está no fim e para ainda alcançar sua audição em declínio ele berra: 
-Aqui ninguém mais podia ser admitido, pois esta entrada estava destinada só a você. Agora eu vou embora e fecho-a.


In dem Gericht täuschst du dich,“ sagte der Geistliche, „in den einleitenden Schriften zum Gesetz heißt es von dieser Täuschung: vor dem Gesetz steht ein Türhüter. Zu diesem Türhüter kommt ein Mann vom Lande und bittet um Eintritt in das Gesetz. Aber der Türhüter sagt, daß er ihm jetzt den Eintritt nicht gewähren könne. Der Mann überlegt und fragt dann, ob er also später werde eintreten dürfen. „Es ist möglich“, sagt der Türhüter, „jetzt aber nicht.“ Da das Tor zum Gesetz offensteht wie immer und der Türhüter beiseitetritt, bückt sich der Mann, um durch das Tor in das Innere zu sehn. Als der Türhüter das merkt, lacht er und sagt: „Wenn es dich so lockt, versuche es doch trotz meines Verbotes hineinzugehn. Merke aber: ich bin mächtig. Und ich bin nur der unterste Türhüter. Von Saal zu Saal stehn aber Türhüter, einer mächtiger als der andere. Schon den Anblick des dritten kann nicht einmal ich mehr vertragen.“ Solche Schwierigkeiten hat der Mann vom Lande nicht erwartet, das Gesetz soll doch jedem und immer zugänglich sein, denkt er, aber als er jetzt den Türhüter in seinem Pelzmantel genauer ansieht, seine große Spitznase, den langen, dünnen, schwarzen, tartarischen Bart, entschließt er sich doch, lieber zu warten, bis er die Erlaubnis zum Eintritt bekommt. Der Türhüter gibt ihm einen Schemel und läßt ihn seitwärts von der Tür sich niedersetzen. Dort sitzt er Tage und Jahre. Er macht viele Versuche eingelassen zu werden und ermüdet den Türhüter durch seine Bitten. Der Türhüter stellt öfters kleine Verhöre mit ihm an, fragt ihn nach seiner Heimat aus und nach vielem andern, es sind aber teilnahmslose Fragen, wie sie große Herren stellen, und zum Schlusse sagt er ihm immer wieder, daß er ihn noch nicht einlassen könne. Der Mann, der sich für seine Reise mit vielem ausgerüstet hat, verwendet alles und sei es noch so wertvoll, um den Türhüter zu bestechen. Dieser nimmt zwar alles an, aber sagt dabei: „Ich nehme es nur an, damit du nicht glaubst, etwas versäumt zu haben.“ Während der vielen Jahre beobachtet der Mann den Türhüter fast ununterbrochen. Er vergißt die andern Türhüter und dieser erste scheint ihm das einzige Hindernis für den Eintritt in das Gesetz. Er verflucht den unglücklichen Zufall in den ersten Jahren laut, später, als er alt wird, brummt er nur noch vor sich hin. Er wird kindisch, und da er in dem jahrelangen Studium des Türhüters auch die Flöhe in seinem Pelzkragen erkannt hat, bittet er auch die Flöhe ihm zu helfen und den Türhüter umzustimmen. Schließlich wird sein Augenlicht schwach und er weiß nicht, ob es um ihn wirklich dunkler wird oder ob ihn nur die Augen täuschen. Wohl aber erkennt er jetzt im Dunkel einen Glanz, der unverlöschlich aus der Türe des Gesetzes bricht. Nun lebt er nicht mehr lange. Vor seinem Tode sammeln sich in seinem Kopfe alle Erfahrungen der ganzen Zeit zu einer Frage, die er bisher an den Türhüter noch nicht gestellt hat. Er winkt ihm zu, da er seinen erstarrenden Körper nicht mehr aufrichten kann. Der Türhüter muß sich tief zu ihm hinunterneigen, denn die Größenunterschiede haben sich sehr zuungunsten des Mannes verändert. „Was willst du denn jetzt noch wissen,“ fragt der Türhüter, „du bist unersättlich.“ „Alle streben doch nach dem Gesetz,“ sagt der Mann, „wie kommt es, daß in den vielen Jahren niemand außer mir Einlaß verlangt hat?“ Der Türhüter erkennt, daß der Mann schon am Ende ist und um sein vergehendes Gehör noch zu erreichen, brüllt er ihn an: „Hier konnte niemand sonst Einlaß erhalten, denn dieser Eingang war nur für dich bestimmt. Ich gehe jetzt und schließe ihn.“ [trecho no no cap. 9]


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